A Câmara Municipal de Natal realizou nesta terça-feira (16) uma sessão solene em homenagem às mães atípicas, com a entrega da Comenda Mãe Atípica Helena Fernandes, de proposição da vereadora Thabatta Pimenta (Psol). Ao todo, 19 mulheres foram homenageadas, indicadas por dez vereadores, em reconhecimento ao papel fundamental que exercem na defesa dos direitos das pessoas com deficiência e no cuidado de seus filhos e dependentes.
A vereadora Thabatta Pimenta destacou a importância da iniciativa: “Para mim é uma felicidade, tendo em vista que estamos vivenciando também o Setembro Verde, mês da luta das pessoas com deficiência. Trazer o nome de Helena Fernandes para essa comenda é, acima de tudo, uma homenagem a uma mulher à frente do seu tempo. Helena já falava, anos atrás, da interiorização das políticas públicas voltadas às pessoas com deficiência e autistas. É uma honra ter proposto essa comenda, ter sua aprovação e levar o nome dessa mulher que tanto representou essa luta em Natal e no Rio Grande do Norte”.
O vereador Irapoã Nóbrega (Republicanos) ressaltou que a solenidade é também um gesto de reparação histórica. “É louvável a proposição da vereadora Thabatta Pimenta. Nos dias de hoje, o tema está muito em evidência, mas, há 30 anos, minha mãe passou por muita coisa e lutou sem ter nenhum diagnóstico. Hoje já existem tratamentos e diagnósticos, e isso faz toda a diferença. Essa sessão solene é uma forma de dar voz e de homenagear todas as mães atípicas”, afirmou.
Entre as homenageadas esteve Raimunda Nóbrega de Oliveira, mãe do próprio vereador Irapoã e de Itamar Filho, autista nível 3 de suporte. Raimunda ajudou a fundar, em 1996, a APAARN (Associação de Pais e Amigos dos Autistas do RN), primeira entidade dedicada ao tema no estado. Emocionada, ela relembrou as dificuldades enfrentadas no início. “Foi muito difícil. No começo, não conseguíamos nem colocar os filhos nas escolas. Fundamos a APAARN para mudar essa realidade. Lutamos muito para chegar até aqui”, lembrou. Ela também comemorou o reconhecimento. “Durante muito tempo não fui reconhecida”, disse.
A solenidade também marcou a memória de Helena Fernandes, que dá nome à comenda. Pedagoga e psicopedagoga, Helena mergulhou nos estudos sobre autismo e neurodivergências, capacitou professores em Libras, atuou na Subcoordenadoria de Educação Especial do Estado e foi uma das fundadoras da APAARN. Sua filha, Priscila Fernandes, recebeu a comenda por dar continuidade à luta iniciada pela mãe. “É muito importante dar visibilidade à causa e valoriza quem sempre levantou a bandeira da inclusão. Minha mãe deixou um legado, dedicou sua vida a essa luta, muitas vezes se colocando de lado para priorizar minha irmã. Hoje, ela não está entre nós, mas permanece viva nessa causa”, afirmou.
A secretária municipal de Igualdade Racial, Direitos Humanos e Diversidade (SEMIDH), Luciana Dantas, também falou como mãe atípica. “Nós enfrentamos barreiras o tempo todo. Muitas vezes encontramos dificuldades na matrícula das crianças, inclusive em escolas privadas. Muitas mães abrem mão da carreira e até do autocuidado, o que traz consequências sérias, inclusive para a saúde mental. Por isso considero a iniciativa da vereadora Thabatta fantástica e necessária. Quanto mais falarmos sobre isso, mais a sociedade vai se sensibilizar”, destacou.
A sessão solene reforçou que a homenagem não se resume ao ato simbólico, mas é um chamado para ampliar políticas públicas, garantir diagnósticos precoces, acesso a serviços adequados e apoio às famílias. Como lembrou a vereadora propositora, a luta das mães atípicas não cabe em um único mês: é contínua, plural e essencial para a construção de uma Natal mais inclusiva.
Também participaram da sessão solene os vereadores Cláudio Custódio (PP), Daniell Rendall (Republicanos), Daniel Santiago (PP), Herberth Sena (PV), Leo Souza (Republicanos), Samanda Alves (PT), Pedro Henrique (PP).
Texto: Ilana Albuquerque
Fotos: Verônica Macedo